Somos muitos, mas quase não se nota. Fazemos parte de uma parcela da população de artistas, escritores, pintores, cantores, poetas entre outros. Se a sociedade fosse valorizar estas pessoas, se equivaleria a um profissional como qualquer outro: somos autônomos, somos doentes portadores de sofrimento psíquico e isto muitas vezes não impede de fazer alguma coisa produtiva como os ditos “normais”.

A loucura da discriminação e do preconceito, impede a sociedade dos ditos normais de ver nestas pessoas o potencial, virtudes, saberes, criatividade e assim por diante. Ver que estão acima de suas patologias, mas para alguns médicos conservadores com visão manicomial, somos loucos incapazes que devem se submeter tão somente ao tratamento medicamentoso e estar sob forte vigilância pois, segundo estes médicos, estas pessoas são perigosas para a sociedade.

Existem médicos que já visualizam um outro tipo de tratamento mais humano, menos restrito,  olham mais para o cidadão que está a sua frente do que para o suposto louco com sua doença. Tenho bem claro que já basta muitas vezes à violência da própria doença com todo os seus malefícios a nos atormentar por isto. Não podemos mais aturar tratamentos violentos de médicos mais violentos ainda, que se escondem atrás de uma instituição manicomial como os hospitais psiquiátricos. Para estes médicos, até atitudes sadias são vistas por eles como sintomas doentios e patológicos, mas graças a reforma psiquiátrica, a maioria dos usuários de saúde mental já sabe os seus direitos e, exercendo alguma atividade profissional ou não, estão na sociedade, na cultura, na vida!

Não somos mais os coitadinhos que precisam de babá terapêutica. É hora de nos assumirmos como cidadãos totais, temos que descobrir cada vez mais as nossas qualidades e nossos potenciais. Somos loucos, mas somos gênios e isto compêndio de psiquiatria algum ensina. É uma faculdade que se aprende com a vivência!!

                              *PAULO MICHELOM – membro do Fórum Gaúcho de Saúde Mental

Texto apresentado pelo autor na Assembléia Legislativa/RS

Evento de Comemoração aos 13 Anos da Lei da Reforma Psiquiátrica

10 de agosto 2005